quinta-feira, 1 de dezembro de 2011


Por que razão os Estados Unidos apoiam projecto de “corredor sul”?



A estratégia energética dos Estados Unidos não é um segredo. O seu ponto principal consiste em que a procura europeia de produtos energéticos continuará a crescer, o que pode levar a uma dependência maior em relação aos recursos energéticos da Rússia, tendo sérias consequências para as relações entre Moscovo e a Europa. Washington receia que Moscovo aproveite a crescente necessidade em recursos energéticos para estabilizar as suas relações com os países da Europa Ocidental, o que levará gradualmente à perda da liderança transatlântica dos Estados Unidos.
Segundo, a Alemanha tomou uma decisão estratégica de renunciar à energia atómica e, em vez disso, aumentar importações de produtos energéticos da Rússia. Desde o ponto de vista dos Estados Unidos, as relações russo-alemãs cada vez mais fortes têm não apenas uma ressonância histórica de grande importância para a segurança europeia, mas podem também, no fim das contas, enfraquecer a unidade europeia e as bases da própria NATO que os Estados Unidos qualificam como principal instrumento para alcançar os seus objectivos estratégicos globais.
Finalmente, a Rússia reforça a Organização de Cooperação de Xangai (OCX), sobretudo no plano energético. Na OCX entram a China, o Cazaquistão, o Quirguistão, a Rússia, o Tajiquistão e o Uzbequistão. Os Estados Unidos estão realmente interessados no chamado “corredor sul” para o transporte de produtos energéticos turcomenos para a Europa Ocidental com o fim de limitar o domínio russo no mercado europeu. De facto, a estratégia energética dos Estados Unidos é orientada quase integralmente para “deter” o papel principal da Rússia como fornecedor energético da Europa e a sua enorme influência nos países-produtores de energia na Ásia Central e do Cáspio.
Por outras palavras, se os Estados Unidos fizerem lobby a um projecto, por exemplo ao projecto de gasoduto trans-cáspio e este projecto for realizado, tal, respectivamente, aumentará a influência dos Estados Unidos. Como isso acontece na prática? Washington promete apoio, preferências, ajuda na realização de alguns projectos ou ajuda na obtenção de subsídios ou créditos, na avaliação do custo de jazidas. Mas no caso do projecto de “corredor sul”, esta estratégia não deu grande resultado e não apenas por razões políticas, mas sim por razões puramente económicas.
A maioria dos peritos europeus consideram que o projecto Nabucco pode ser realizado após 2020 e só em dependência de circunstâncias. Tal ponto de vista assenta nos factores que podem influenciar o desenvolvimento do “corredor sul”, na esperada extracção de gás no Azerbaijão nos próximos dez anos, nos critérios de selecção de tubos para o gasoduto, no nível de prontidão técnica, na vitalidade comercial e na segurança de fornecimentos. Em conformidade com os prognósticos, muitos projectos concorrem no transporte de gás à Europa de inúmeras fontes diferentes (Azerbaijão, Turquemenistão, Irão, Iraque). Mas apenas uma fonte – gás extraído na segunda etapa da exploração da jazida azerbaijana Shah Deniz – pode ser acessível em 2020. A falta de grande volume de gás significa que actualmente pode ser realizado apenas um projecto de gasoduto. Por outras palavras, não há e não se prevê por enquanto uma alternativa real aos fornecimentos russos de gás à Europa.
Como declara Washington, o Nabucco será construído em qualquer caso, mesmo se houver um desentendimento quanto ao seu preenchimento e ao seu custo. Trata-se mais de um projecto político para diminuir os fornecimentos da Gazprom. Mas, a seguir, começam as perguntas. Não há quaisquer entendimentos obrigatórios para além de declarações em relação à base de recursos (Azerbaijão, Irão, Iraque, Turquemenistão). Por outro lado, há riscos políticos e jurídicos destes países e militares, no caso do Iraque. Será possível preencher o gasoduto à conta de duas-três fontes, no mínimo. Por enquanto não se vislumbra a lógica económica do projecto. A estratégia dos Estados Unidos não resiste à comparação com o South Stream russo que deverá entrar em exploração em 2017 e não enfrenta quaisquer problemas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Portal NewsRussia

Portal NewsRussia
Portal da interação Rússia e os países de língua portuguesa.