quinta-feira, 1 de dezembro de 2011


Por que razão a Europa não receberá gás do Turquemenistão?
Gasparian: Os corredores do sul e problemas do Cáspio encontram-se tradicionalmente em foco da nossa atenção. Hoje votamos a abordar este tema. O nosso convidado é chefe de sector do Departamento Económico do Instituto de Energia e Finanças, Vitaly Protassov. Vitaly Sergueevitch, seja bem-vindo à emissora Voz da Rússia.
Gasparian: Sempre que se começa a falar do gás turcomeno, diz-se inevitavelmente que a Europa, aliás, não irá recebê-lo. Por que razão? – é a pergunta principal, à qual poucas pessoas podem responder. Na “imprensa amarela” escreve-se frequentemente: +e como o cinturão de Parthos, que sempre está por um lado. Eis o gás que pode ser visto. Mas, do outro lado, não está, desculpem, senhores, mas não está. E os recursos de gás que o Turquemenistão declara em diferentes negociações, na verdade, como se esclarece posteriormente, não correspondem de modo algum à realidade. E a isso que está ligada a afirmação de que a Europa não receberá gás turcomeno ou há uma outra explicação?
Protassov: Há vários factores importantes. Primeiro, o gás turcomeno é pretendido por um grande número de países. O mais importante jogador nesta esfera é, provavelmente, a China e não a Rússia. Como se supõe, os fornecimentos de gás do Turquemenistão à China atingirão 40 mil milhões de metros cúbicos no fim do actual decénio. Há também o Irão com que foi assinado um contrato de fornecimento de 12 mil milhões de metros cúbicos. Por outro lado, há o consumo interno que oscila entre 16 e 29 mil milhões de metros cúbicos. Há também a Rússia que compra por enquanto não grandes volumes de gás. Há o Cazaquistão que também precisa de certo grau de gás turcomeno. Portanto, há muitos pretendentes. Existe também um “projecto Turquemenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia”, de gasoduto TAPI, que prevê fornecer até 30 mil milhões de metros cúbicos de gás à Índia por este itinerário complicado. Por outro lado, o Turquemenistão sempre declarou: sempre estamos dispostos a vender o nosso gás, vendemo-lo na nossa fronteira e o que acontecerá depois, não nos interessa.
Gasparian: É uma posição bastante estranha. Vedemo-lo e não nos interessa o seu destino futuro?
Protassov: É assim. E qual a diferença? O principal é que nos paguem dinheiro. Por isso, se o Turquemenistão tiver outras alternativas, à excepção da Europa, com as condições que o satisfaçam, ele irá aceitá-las sem problemas. Respectivamente, há um outro momento – o problema da incerteza de recursos de gás turcomeno. Primeiro, o Turquemenistão dá acesso a contragosto a peritos internacionais directamente aos seus jazigos. Os exames efectuados são anunciados formalmente como independentes, declarando-se posteriormente que, em certo sentido, são números “exagerados”. Para além disso, outro problema muito importante consiste em que a extracção de gás no Turquemenistão diminuiu drasticamente após a crise e a recusa de comprar gás de acordo com entendimentos anteriormente alcançados. Em resultado, o Turquemenistão diminuiu consideravelmente a extracção de gás. Portanto, necessitará de alguns anos para se restabelecer, para alcançar os limites anteriores… Não diria contudo que é impossível que a Europa receba gás turcomeno. Em princípio, é possível. Disse sobre uma das variantes – digamos, os fornecimentos através da Rússia, através do South Stream. Que vantagens tem esta variante? Para o Turquemenistão tudo está claro: o país venderá gás e terá rendimentos. A vantagem para a Rússia consiste em que tudo isso poderá ser apresentado como uma concessão à União Europeia – a possibilidade de acesso ao gás turcomeno, mas, ao mesmo tempo, em troca da concessão de condições privilegiadas para o South Stream. É, aliás, um procedimento formal, porque, segundo a actual legislação europeia em vigor, existem os chamados “projectos de interesse europeu”. Os “projectos de interesse europeu” visam diversificar os fornecimentos, dando maior destaque para as fontes de fornecimentos. Outro momento importante é a diversificação de trajectos de fornecimentos. O South Stream entra na diversificação de trajectos de fornecimentos. Mas a fonte de fornecimentos é a mesma, a Rússia. Respectivamente, se através do South Stream for fornecido gás turcomeno, significará que por todos os indícios formais o gasoduto deverá receber o estatuto de “projecto de interesse europeu”, ou seja ser abrangido por pacotes de actos legislativos da EU, que hoje criam riscos consideráveis para o South Stream. Esta é, naturalmente, uma vantagem para a Rússia, levando em consideração o monopólio de exportar gás russo e a vontade do Turquemenistão de vender gás na sua fronteira. Em resultado, a Rússia, ou seja a Gazprom, irá comprar gás turcomeno e revendê-lo à Europa. Uma desvantagem para a Rússia consiste em que a margem será menor, porque o preço do gás turcomeno será superior ao preço de custo da extracção de gás no território da Rússia. Mas, no entanto, recebendo certas concessões por parte da União Europeia e com um regime simplificado para o South Stream, tal pode proporcionar certos lucros. E, respectivamente, a Europa receberá gás turcomeno.
Gasparian: Mas por que razão o Turquemenistão bloqueia a investigação dos seus recursos de gás? Há alguns anos falou-se muito que esta é uma via para a Europa para, como se escrevia na imprensa europeia, de livrar-se da exclusiva influência da Rússia, de que esta é uma via real única – a diversificação de fornecimentos, referindo-se ao gás do Turquemenistão. Mas as suas reservas não foram prospectadas Por que isso não acontece?

Protassov: Formalmente, as pesquisas estão a ser feitas.
Gasparian: Mas entre a formalidade e a realidade há uma grande diferença.
Protassov: Provavelmente, isso pode ser ligado ao facto de as reservas do gás turcomeno terem sido menores na realidade em comparação com as declarações do Turquemenistão. Ou podem haver quaisquer problemas tecnológicos ligados à extracção deste gás natural. Ou seja, o gás existe, mas é muito mais complexo extrai-lo do que isso se apresenta perante os potenciais investidores, etc. Portanto, há interesse em esconder parcialmente estes dados.
Gasparian: Mas por que não dizer simplesmente que há gás, que se deve apenas extrai-lo, mas será um pouco difícil, que há uma série de problemas de dificuldades objectivas, de problemas tecnológicos? Mas o principal é que temos gás. Para que esconder? Para depois, quando já houver um gasoduto e quando ele dever ser cortado, porque, desculpem, não podemos fazer mais nada, não podemos mais recursos? Quais são vantagens?
Protassov: As vantagens são lucros adicionais. Só após a conclusão dos respectivos acordos, só após o estabelecimento do preço dos fornecimentos será esclarecido que as condições são piores ou as reservas de gás são menores.
Gasparian: E estes acordos poderão ser bloqueados, por exemplo, pela União Europeia após a verdade ter sido esclarida?
Protassov: É difícil responder. Primeiro, haverá acordos comerciais concretos entre uma companhia europeia e uma companhia estatal turcomena. Em princípio, este será um acordo não comercial, mas só no caso de a indução em erros ter sido premeditada. Mas ainda deve ser provado que a indução foi directa. A prospecção foi feita por companhias de peritos internacionais. Teoricamente, o Governo do Turquemenistão não tem nada a ver com isso.
Gasparian: Em geral, a história do gás semi-enigmático, semi-místico não é um segredo. A meu ver, os parceiros europeus também entendem que não tudo aqui é tão simples e tão claro como como desejariam e por isso não têm pressa de realizar este projecto.
Protassov: É assim em certo sentido. Mas, seja como for, a Europa precisará de gás. Pergunte-se em que volumes. Por isso, o interesse não desaparece. E o problema do preço, como sempre.
Gasparian: Faço lembrar que o convidado do “Serviço Russo” foi o chefe de sector do Departamento Energético do Instituto de Energia e Finanças, Vitaly Protassov. 

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